Publicação: 10/06/2011
Familiares e especialistas tentam entender fenômeno da geração tablet
Carolina Vicentin - Correio BrazilienseYuri e Fernanda ficam maravilhados com a habilidade da pequena Alice, de 2 anos e 6 meses, com o tablet |
“Nós ainda sabemos muito pouco”, diz a professora Nize Maria Pellanda, da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS). Avó de um menino de 2 anos e 6 meses, a especialista acompanha as peripécias do neto em frente a um iPad desde o primeiro ano de vida. “Eu e meu marido analisamos o comportamento dele: as coisas que ele faz são impressionantes”, conta. Por enquanto, é claro, as observações de Nize ficam no “achismo”, mas a tendência é que pesquisadores das áreas de educação, neurologia e pediatria, entre outras, se debrucem sobre o assunto. Uma aluna de mestrado de Nize está formatando um projeto de pesquisa na área. A ideia é mostrar os benefícios que os tablets trazem ao desempenho de crianças autistas.
Enquanto isso, muitos pais repetem a experiência de Nize. O administrador de empresas Yuri Alexander Mendes, 28 anos, observa há seis meses a diversão da filha Alice, de 2 anos e 6 meses, com um iPad. “Eu comprei o aparelho para a minha esposa (a assessora Fernanda Adjuto), mas, quando chegamos em casa, minha filha começou a mexer com muita destreza”, lembra Yuri. Alice, que já sabia operar um iPhone, brinca sozinha no tablet. A menina usa programas que ensinam inglês e espanhol, quebra-cabeças e jogo da memória. “Nós ficamos muito surpresos. Nunca imaginei que ela teria essa capacidade. Nós fazemos algo no tablet, ela aprende e repete sem erros.” Agora, o desafio dos pais é limitar o uso do iPad. “Se deixar, a Alice leva até para o parquinho”, brinca Mendes.
A paixão pelo equipamento da Apple também existe na família Gurgel. Depois de meses de insistência, os irmãos Felipe e Thiago, de 11 e 15 anos, respectivamente, ganharam de Natal o primeiro modelo do iPad. O mais velho conta que a vontade de ter o tablet sempre existiu. “Desde que eu fiquei sabendo do lançamento, quis ter um. Ele fácil de mexer e de carregar, muito mais do que um computador”, opina. O pai dos meninos, o analista de sistemas Luiz Gurgel, 50 anos, rechaçou o pedido dos filhos. “Relutei um bocado para comprar, porque sabia que eu também ficaria interessado no aparelho”, lembra.
Não teve jeito. Pai e filhos se encantaram pelo tablet e fizeram um acordo de cavalheiros para atender a todos os interesses. “Meu pai usa de segunda a sexta-feira para trabalhar, eu e meu irmão nos dividimos aos fins de semana”, explica Felipe. No começo, a posse do iPad gerou algumas discussões. “A gente sempre brigou muito, mas percebemos que, se não houvesse acordo, nenhum dos dois aproveitaria o equipamento”, afirma Thiago. Hoje, os meninos são compreensivos em relação ao tempo de uso do tablet. Quando um não está com o aparelho, vai para o computador. “Mas o iPad é muito mais legal que o notebook. Ele é touch”, resume Felipe.
Outra família que se derrete por tablets é a da estudante Victória Lambert, 13 anos. Depois de testar a primeira versão do iPad, o pai da menina comprou o novo modelo, que ganhou o sobrenome da família na parte de trás. “É o xodó da casa. Meu pai usa quando viaja a trabalho e eu, para entrar no Twitter”, conta a garota. Mesmo usando o tablet primordialmente para diversão, Victória acredita que o equipamento deve ser adotado pela escola. “Ele é muito mais prático que um notebook. Sem falar que evitaria aquela montanha de livros que carregamos todos os dias”, aponta a menina.
Na sala de aula
A reclamação de Victória é considerada pelas escolas. “Os alunos carregam, em média, cinco livros por dia, a adoção de um tablet facilitaria muito o transporte de material”, comenta André Frattezi, coordenador da disciplina de física em um colégio particular de Brasília. A escolha do gadget para a sala de aula, no entanto, exige uma série de definições: qual será o modelo, se haverá um modelo único para todos, como será feita a conexão por internet, se a escola vai fornecer o tablet, se os estudantes terão de comprar o aparelho e por aí vai.
Tantas perguntas não desencorajam os especialistas. “Acreditamos que os tablets representam aquilo que foi imaginado há 10 anos, a verdadeira entrada da informática na educação”, aposta Fratezzi. Isso porque esse tipo de equipamento permite que os alunos tenham acesso a recursos audiovisuais dentro da sala de aula, sem precisar ir a outro lugar onde há computadores. O professor da Universidade de Brasília (UnB) Gilberto Lacerda, especialista em tecnologias na educação, ressalta que estudos internacionais indicam a melhora qualitativa na aprendizagem com o uso de aparelhos como os tablets.
“Os estudos ainda são escassos, mas a maioria das hipóteses indica que há aumento da criatividade e da motivação com a adoção dessas tecnologias”, afirma Lacerda. O problema, diz o professor, é que as escolas também precisam aprendem durante esse processo. “Nós estamos vivendo uma revolução tecnológica, estamos em plena efervescência. Se os educadores não se adaptarem, ficarão passando ao largo dessas possibilidades.”
Brincadeira no Twitter
No início de 2010, a descrença quanto ao sucesso do então recém-lançado tablet da Apple deu origem a vários Trending Topics (os temas e expressões mais comentados no Twitter). Os internautas brasileiros apelidaram o equipamento de iPodão e iPhonão, além, é claro, da referência iPod de Itu. Meses depois, o produto da empresa de Steve Jobs se consolidou como um sucesso — o que acabou estimulando fabricantes concorrentes a acelerarem o lançamento de seus tablets.
Gadget terapêutico
As tecnologias touch também podem trazer melhora nas funções cognitivas de idosos. “Há o conceito de acoplamento à máquina. A ideia é, basicamente, mostrar que o cérebro também pode ‘estar’ na ponta dos dedos”, afirma a professora Nize Pellanda. Segundo Nize, experiências com voluntários já mostraram benefícios para quem se aventurou nas telas sensíveis ao toque, embora ainda não tenha sido feita uma ressonância para checar se houve, de fato, ativação de neurônios.
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