A origem | |
O homem, desde os mais remotos tempos, procurou um meio de registrar sua passagem pelos lugares e de delimitar seus territórios. Os mapas foram a primeira forma de expressão utilizada, surgindo antes mesmo da escrita.
Os primeiros mapas aparecem junto a desenhos registrados pelos povos primitivos em cavernas, e até hoje não tiveram seu significado totalmente desvendado. Como exemplo, pode-se citar as figuras rupestres encontradas no Vale do Pó, norte da Itália, em especial na cidade de Bedolina, onde há um mapa representando toda uma organização camponesa, mostrando detalhes de atividades agropastoris ali desenvolvidas por volta de 2400 anos antes de Cristo. |
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o mundo clássico | |
A Grécia antiga, considerada o berço da civilização ocidental, muito contribuiu para o desenvolvimento das ciências, da filosofia e das artes em geral. Já no século VI a.C., suas expedições militares e de navegação, impulsionaram os trabalhos de cosmógrafos, astrônomos e matemáticos, os primeiros a buscar métodos científicos capazes de representar a superfície terrestre.
"Globe de Mella, Globe de Posidonius, Globe de Ptolomee" -
Raphaelo Savanarola, séc. XVIII
Tradução: Globo de Mella, Globo de Poseidon, Globo de Ptolomeu. Nesta gravura aparecem três representações antigas do Globo. Observa-se a projeção cônica, muito usada por Ptolomeu
Dentre os personagens mais importantes, pode-se citar Erastótenes (275-194 a.C.) e Ptolomeu (90-168 d.C.). O primeiro foi filósofo, astrônomo e matemático da escola de Alexandria, responsável pelo cálculo da circunferência da Terra. Para efetuar este cálculo Erastótenes utilizou como referência a altura angular do Sol e a distância entre as cidades de Alexandria e Siena, chegando ao valor de 110 Km, muito próximo do valor conhecido atualmente, 111 Km.
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Ptolomeu |
Astrônomo, matemático e geógrafo, viveu em Alexandria, na época em que era dominada pelo Império Romano. Considerado o autor do primeiro Atlas Universal, disseminou o uso das coordenadas (latitude e longitude) e das projeções cônicas. Seu trabalho foi reproduzido muitas vezes durante a Idade Média, até que surgisse um mapa com maior precisão, o que só ocorreria 14 (quatorze) séculos depois, com Mercator
Enquanto os gregos experimentavam um grande avanço na área da Cartografia, os romanos ainda se encontravam em um estágio anterior. Utilizando-se de uma forma de representação muito primitiva, situavam Roma como centro do mundo e davam maior ênfase ao registro de rotas. A função principal desses mapas era de ordem prática, sendo utilizados para fins militares, administrativos e comerciais.
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Um dos mais famosos mapas romanos foi elaborado por Marcus Vipsanius Agripa (63-12 a.C.) a pedido do Imperador Octavio Augusto. Situado no Campo de Marte, em Roma, o "Orbis Terrarum", mostrava com detalhes todas as rotas do Império Romano e incluía muitas outras informações. Este mapa chegou a ser reproduzido em outras importantes cidades do Império mas, não foram preservados.
"Orbis Terrarum" - Vipsanius Agripa
Reprodução do mapa original (20 a.C.) | |
a idade média | |
Durante a Idade Média, período que se estendeu da queda do Império Romano (476 d.C.) a tomada de Constantinopla (1453 d.C.), a Cartografia experimentou uma fase de estagnação, onde todas as conquistas científicas realizadas anteriormente, foram substituídas por uma representação simbólica, de caráter religioso.
Isodoro (570-636 d.C.), bispo de Sevilha, criou o mapa etimologias, também conhecido como mapa T-0. Este mapa esquemático tinha o seguinte significado: o "T" representava os três cursos d'água que dividiam o ecúmero, o Mediterrâneo, que separa a Europa da África; o Nilo, separando a África da Ásia; e o Don, entre a Ásia e a Europa. O ecúmero teria sido dividido por Noé entre seus três filhos após o Dilúvio. Além disso, o "T" também simbolizava a cruz e na sua junção estaria localizada Jerusalém, centro do mundo. Esses mapas, em sua maioria, eram circulares e emoldurados por um grande oceano.
"Die Ganze Welt In EinemKleberbat" - Heinrich Bünting, 1581Tradução: O Mundo Inteiro numa Folha de Trevo Exemplo de mapa com simbolismo religioso, onde o mundo é representado por uma folha de trevo, que delimita os três continentes, destacando-se Jerusalém ao Centro. A América à parte deste mundo | |
a era dos descobrimentos (séc. XV a XVIII) | |
A partir de 1413, com o início das grandes viagens marítimas, a Cartografia ressurge como meio de garantir a segurança dos viajantes e de representação das novas descobertas. Foi muito importante nessa época a "Escola de Sagres", em Portugal, onde eram treinados os pilotos e cosmógrafos.
Os navegantes costumavam carregar consigo anotações, onde eram registrados os rumos (direções) e as distâncias entre os portos visitados. Também eram feitos desenhos, cujo objetivo provável era facilitar a navegação, sem preocupação com sistemas de projeções. Essas anotações receberam o nome de Portulanos ou Cartas Portulanos e buscavam representar a costa dos continentes e, em especial, o mar Mediterrâneo.
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Carta-Portulano do Mediterrâneo
Joan Oliva, 1610 Pode-se observar o desenho do continente europeu, destacando-se a península Ibérica e a Itália. |
Durante muitos séculos, os mapas foram um privilégio da elite. Apenas reis, nobres, alto clero, grandes navegadores e armadores de expedições marítimas, tinham acesso a esse tipo de informação. Somente a partir da invenção da imprensa, na segunda metade do século XV, os mapas puderam ser mais amplamente utilizados.
Em 1570 surgia o primeiro grande Atlas mundial, confeccionado por Ortelius (1527-1598), o "Theatrum Orbis Terrarum", originalmente escrito em latim, teve várias edições e mais de 7000 (sete mil) cópias impressas em diferentes idiomas. Tratava-se de um conjunto precioso de mapas, produzidos pelos mais importantes cartógrafos da época, incluindo Mercator, que em 1569 produziu o primeiro mapa-mundo com projeção cilíndrica.
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Foi Mercator (1512-1594) quem primeiro utilizou a palavra Atlas para nomear uma coleção de mapas. Mas sua maior contribuição foi o sistema de projeção, que recebeu seu nome e até hoje é largamente empregado. A "Projeção Cilíndrica de Mercator" surgiu com o objetivo de facilitar a navegação, oferecendo uma representação do mundo, onde uma linha reta na carta correspondesse a uma reta de igual rumo no oceano. Tratava-se, portanto, de uma carta orientada.
"Americae Sive Novi Orbis" - Ortelius, 1595 Tradução: América ou Novo Mundo. Este mapa apareceu em todas as edições do Theatrum Orbis Terrarum e revela a influência do mapa de Mercator de 1569 | |
Embora tenha alcançado seu objetivo inicial, a Projeção de Mercator gerou uma grande distorção nas distâncias, sobretudo na região dos Pólos, mostrando as massas continentais nessas latitudes muito dilatadas.
"Typus Orbis Terrarum" - Ortelius, 1571 Tradução: Modelo Completo da Terra. Neste mapa pode-se observar a grande distorção nos territórios localizados próximos aos pólos (altas latitudes) | |
a era moderna | |
No final do século XVIII ocorre na Inglaterra a "Revolução Industrial", fato que marca o começo dos tempos modernos. Sua importância para a Cartografia é grande, uma vez que, com a geração de riquezas, foi possível um maior investimento na produção de cartas e instrumentos, que melhoraram a precisão dos trabalhos. Já na segunda metade do séc. XVIII a Grã-Bretanha despontava como um grande centro de atividades cartográficas, ocupando o lugar que antes pertencia à Antuérpia.
Como exemplos de grandes nomes desta época pode-se citar: John Hadley (1682-1744), responsável pela construção do primeiro telescópio refletor usado em astronomia; John Harrison (1693-1776), relojoeiro que inventou um cronômetro marinho, fundamental para a solução do problema das longitudes e Jesse Ramsden (1735-1800), que desenvolveu o sextante e o teodolito.
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Observatório de Greenwich, em Londres
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Um grande desafio que se colocava aos cientistas modernos era o cálculo das longitudes, fundamental para por fim aos incidentes ocorridos com embarcações. Embora já se aceitasse a idéia de que a Terra não era uma esfera perfeita, ainda não se tinha como determinar com precisão sua forma e tamanho.
A fim de solucionar este problema, os reis da França e Inglaterra investiram muitos recursos e incentivaram as pesquisas desenvolvidas nos grandes centros de estudos da época, como a "Académie Royale des Sciences" (1666) e a "Royal Society of London" (1662), que se apoiavam, respectivamente, nos trabalhos realizados no "Observatoire Royal de Paris" (1667), sob o comando de Giovanni Cassini (1625-1712) e no "Royal Observatory at Greenwich" (1676), coordenado por John Flamsteed (1646-1719).
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Planiglobium Terrestre - Weigel, 1730 Tradução: Planisfério Global Exemplo da produção cartográfica do século XVIII |
Com o intuito de verificar se a Terra era mesmo achatada nos Pólos, como previra Isaac Newton (1643-1727), foram organizadas pelos franceses duas importantes expedições geodésicas. A primeira, iniciada em 1735, em Quito, buscava medir um arco de meridiano em um ponto mais central na esfera terrestre. Enquanto a segunda, realizada em 1736, no Golfo de Bótnia, no Ártico, buscava efetuar medições na região polar. O objetivo era comparar os resultados obtidos para se chegar a uma definição sobre a forma da Terra.
Os ingleses, que também efetuavam várias medições, chegaram a valores divergentes daqueles obtidos pelos franceses. Para por fim a essas diferenças, foi realizado um novo levantamento trigonométrico, entre Londres (Observatório de Greenwich) e Dover (cidade portuária localizada a sudeste de Londres), alcançando-se finalmente um consenso.
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Atualmente, a Cartografia pode contar com valiosos recursos como, aerofotos, imagens orbitais, sistemas de posicionamento por satélites, programas e computadores, que além de facilitar as atividades cartográficas, também possibilitam a rápida disponibilização das informações coletadas, assim como a sua mais eficiente atualização.
Imagem extraída de uma Ortofoto da cidade do Rio de Janeiro, em destaque a ponte Lúcio Costa na Barra da Tijuca.
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A história da cartografia e a importância dos mapas
Historiador da Unicamp conta como ocorreram os registros cartográficos pelo mundoA cartografia é o estudo que trata da representação da Terra ou parte dela através de mapas, cartas e outros tipos de documentações. Os primeiros mapas foram traçados no século VI a.C. pelos gregos, que, em função de suas expedições militares e de navegação, criaram o principal centro de conhecimento geográfico do mundo ocidental. O primeiro atlas da história moderna surgiu no século XVI, em 1570.
A palavra cartografia foi introduzida pelo historiador português ManuelFrancisco Carvalhosa, 2º Visconde de Santarém, numa carta datada de 8 de dezembro de 1839 e endereçada ao historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen.
No programa História, a jornalista Mônica Teixeira recebe Paulo Miceli, do Departamento de História Moderna da Universidade de Estadual de Campinas. O professor fala sobre a história da cartografia e da importância que os mapas têm para a humanidade. Segundo Miceli, o mapa traz informações de aspectos culturais, estratégicos, bélicos e religiosos.
“Antes da invenção da escrita, a humanidade desenhou mapas nas paredes das cavernas, por meio de pinturas rupestres feitas com a intenção de representar o caminho dos locais onde havia caça”, afirma o historiador. O mapa é uma das maneiras que o homem encontrou para se localizar no espaço.
Assista à entrevista:
Fonte: univesp.br
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